Imagine aquele sábado de sol com os amigos se encontrando. Todo mundo juntando grana para a cerveja e se organizando para um fim de semana descompromissado na praia. Esse é o clima perfeito para ouvir Autoramas. Tem sons para todos os momentos, desde a bebedeira até a fossa no fim da noite. E foi em meio a essa maresia da surf music, new wave com um “que” de punk rock que encontramos Gabriel Thomaz, Flavia Curi e Bacalhau no camarim do CB Bar instantes antes do show no último sábado dia 11. A banda que se preparava para subir ao palco decidia os últimos detalhes do set list. Aproveitando o momento fiz uma breve entrevista com eles (e ela) falando sobre as novidades, planos para o futuro e as bandas que estão ouvindo no momento.
Quais são os preparativos para a turnê pela Europa agora no fim do
ano?
Gabriel: É a nossa terceira turnê na Europa. Cada vez que a gente vai tem mais shows, tem alguns lugares que tocaremos pela primeira vez como na França por exemplo.
Quais são as diferenças dos álbuns mais antigos para o “Teletransporte”?
Gabriel: Eu acho que o “Teletransporte” tem arranjos melhores, letras melhores, as vozes estão melhores. Acho que é tudo melhor. Hoje demos uma entrevista e o cara perguntou se não é um clichê as bandas dizerem que o último é o melhor. Mas, é engraçado pois é um sinal de que ficamos satisfeitos com o último trabalho mesmo. O último disco tem sons mais variados, cada um tem uma cara e achamos que isso traduz melhor o que é o Autoramas.
A cena independente está crescendo cada vez mais, o que estão ouvindo agora de bandas novas?
Bacalhau: Ah, tem o Montage.
Gabriel: Tem o Canastra, gosto muito do Lendário Chucrobillyman que é um cara só, um “one man band”, toca guitarra, bateria com o pé.
Bacalhau: E ele já fez várias turnês pela Europa, tem muitos fãs por lá, o pessoal gosta.
Gabriel: E é muito legal, é muito bom. O disco dele é excelente. Tem várias coisas boas, mas não tem muitas coisas boas e sempre foi assim, de cem, dez por cento são bem legais. Como eu acho que dez por cento do rock and roll é bem legal, tem muito lixo, um monte de enrolação, um monte de cópia.
Bacalhau: Tem os caras que tem a mania de seguir a cartilha, né? Eu não sei quem inventou a cartilha, mas tem gente que segue. E esse lance das bandas independentes, eu estou esperando a hora de se tornarem profissionais, fazerem shows o tempo inteiro e fazer seus clipes um atrás do outro. Acho que a vitória do independente vai ser quando acontecer isso. O que eu vejo é que aparece uma banda em tal lugar, todo mundo fala, demora um tempinho e depois a banda some.
Gustavo: A gente precisa de carreiras mais duradouras e aí o lance pode ser legal. São poucas as bandas em que se vê isso, o Autoramas é uma dessas e é até difícil de lembrar quais são as outras. Tem bandas que tem uma média de 20, 25 anos como o Cólera e o Ratos (de Porão) que estão aí desde que o movimento punk começou.
O Bacalhau falou sobre as cartilhas. O Autoramas segue alguma?
Bacalhau: Não. Criamos nossa própria cartilha.
Gabriel: Um dos motivos de sermos chamados para tocar lá fora é exatamente por fazer um som original. Cópia, eles também tem. Cópia do Pixies, lá tem trinta, cópia de banda "MOD" tem um milhão. Nós somos chamados para fazer show justamente por causa disso, cada vez que tocamos o nome do Autoramas vai crescendo. E lá batemos uns papos com os caras e isso rende um bom conhecimento sobre o rock.
E as novidades? Vocês estão trabalhando em algum álbum novo?
Gabriel: Estamos sempre trabalhando em algo, mas esse vai ser um projeto especial. Estamos amarrando as coisas para ver como é que vai funcionar, ensaiando bastante. Achamos que o disco “Teletransporte” já fez o seu papel, fizemos muitos shows e a turnê internacional é meio que um fechamento, queremos fazer um disco com ela (Flávia) e já é o momento. Caminhamos para isso. É um projeto especial, algo diferente. Mas vamos ver, de repente podemos mudar de idéia na última hora. Está bem legal, eu estou tocando uns instrumentos diferentes, a Flavia e o Bacalhau também.
Em volta um público bem diversificado, típico de banda que atira sem alvo. Tinha sósia do Robert Smith, gente mais velha, mais nova, mais hype, mais "não-sei-o-que-estou-fazendo-aqui” e mais fã. Uns vinte minutos antes da banda entrar, o DJ já começava a tocar uns sons mais conhecidos para ir aquecendo a galera. Os cariocas abriram o show sem atraso com a música “Motocross” que teve direito a coreografia de Gustavo e Flavia. Daí para frente foram 24 sons só interrompidos para recuperar o fôlego com um gole ou outro de cerveja.
O som do power trio é cheio como de uma banda de cinco ou seis integrantes. Em nenhum momento do show dá para perceber espaços vazios entre as músicas e o entrosamento, mesmo o de Flavia que é mais nova na banda e que fez sua estréia no próprio CB, é como de quem já toca junto no mínimo a 20 anos.
Além dos sons mais conhecidos e das faixas mais recentes do álbum “Teletransporte”, ainda tocaram “Minha fama de mau” do cantor Eramos Carlos, que assim
como a Jovem Guarda é uma influência perceptível em algumas de suas músicas.
Não tinha assistido ainda ao show com a nova baixista Flavia, que além de ter uma presença de palco charmosíssima a la Melissa Auf Der Maur é uma das melhores que vi nos últimos tempos, melhor inclusive que vários caras. Abusa de algumas distorções do pedal (que se não me engano) é um Danelectro e explora o instrumento de várias maneiras tocando com palheta e sem palheta, além de manter o viés feminino que quebra a agressividade de alguns sons da banda.
Para finalizar o show caprichado, os cariocas fazem uma pausa para o descanso e voltam para mais duas músicas. Como o próprio Gabriel disse: “O Autoramas em sua melhor forma e fazendo seu RRRRock!”
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