terça-feira, 24 de março de 2009

Just a Fest - A apoteose aconteceu em São Paulo

O show do Radiohead que aconteceu ontem na Chácara do Jockey, em São Paulo, foi mais que uma apresentação, uma explosão sensorial. Tenho certeza que as 30 mil pessoas que estavam lá em algum momento sentiram um daqueles arrepios que sobem a espinha inteira até chegar na nuca.

O dia já amanheceu com um clima melancólico, completamente propício para o que estava por vir. No fim da tarde, a garoinha que começou fina cessou e deu ao lugar a atmosfera nostálgica que faltava, fazendo com que o lugar parecesse praticamente isolado do mundo.

Os Los Hermanos subiram ao palco no finzinho da tarde, às 18hs30. Abriram o show com “Todo Carnaval Tem seu Fim” e seguiram tocando sons como “O Vento” e “Andar”. Foi o show de retorno da banda depois de quase dois anos de recesso, deu tempo do Amarante dar um rolê na gringa, criar o Little Joy e vir tocar no Brasil, a Mallu Magalhães nascer, virar celebrity e o Marcelo Camelo pegar ela. A apresentação foi bela e despretensiosa, com os dois revezando os vocais, o público cantando junto, tudo super animado. Mas, muita gente acabou chegando tarde por causa do trânsito, ou da falta de espaço nos estacionamentos, o que lá pelas 19hs30 melhorou e deu a sensação de que o lugar tinha enchido de uma hora para outra.

SET LIST:
Todo Carnaval tem seu fim
Primeiro andar
O vento
Além do que se vê
Condicional
Morena
Andar
A outra
Cara estranho
Deixa o verão
Assim será
Cher Antoine
O vencedor
Retrato para Iá- Ia
Casa pré-fabricada
Último romance
Sentimental
A flor

Depois de deixar o clima folk e as cores terra de lado, quem sobe ao palco são os veteranos do Kraftwerk que vão performaticamente ao encontro dos quatro notebooks posicionados na horizontal, enquanto todos olhavam curiosos para ver o que iria rolar. Apesar do Radiohead não ser uma banda do mainstream e toda a galera “modernete” estar por lá, pasmei vendo muita gente estranhando a apresentação, o que me levou a refletir se estaríamos preparados para a música eletrônica.

Quando começaram a rolar as primeiras batidas de “Man Machine” e depois de uma falhadinha no som, o telão seguia a música com vários elementos visuais e a expressão geral ainda era meio de “what the hell is going on?”. Eu achei super fodasso, além das mil relações que criei, comparando a estrutura do quarteto com uma banda convencional e de como as letras minimalistas me despertavam uma reação muito mais reflexiva do que o normal. Uma sensação meio doida mesmo, de buscar explicações no subconsciente de um jeito menos auto-explicativo e muito mais icônico.

Os buxixos que pesquei no ar eram de “quem acha que isso é música?”, “eles devem estar no MSN” ou “tem certeza que esses caras são famosos?”. Comentários à parte, sons como “Computer World”, “Les Mannequins” (que virou “Somos Manequins”) e “Radioactivity” soaram assustadoramente atuais. Ainda tocaram “Tour de France”, “The Europe Express”, “Numbers” e “Aerodynamik”.

Uma das coisas que me atraíram foi ver que os caras realmente estavam fazendo aquilo ao vivo, com exceção de “Robots” que apesar de ter toooodo seu contexto específico, me fez sentir enganada pela gravação, eu tentei, mas não teve jeito...O show foi encerrado com com o vocalista Karl Bartos dizendo “Non stop the musique”.

Apesar de mais de 30 anos de carreira, os Kraftwerks com ternos bem alinhados e alguns cabelos grisalhos apontando na cabeça mostraram que mesmo depois de tanto tempo conseguem manter o caráter transgressor de sua música. E ainda que sejam super conhecidos na cena e na Europa muita gente ainda não está preparada para o que eles fazem. O que com certeza não tira o mérito visionário dos seus trabalhos.

SET LIST:
Intro
Man Machine
Planet of visions
Numbers
Computer World
Tour de France
Autobahn
Model
Computer Love
Les Mannequins
Radioactivity
The Europe Express
Robots
Aerodynamik
Musique non stop


Em meio a ruídos eletrônicos e gritos histéricos na platéia, a banda adentra o palco às 22hs em ponto. Dali para frente o tempo passaria tão rápido e intensamente que poucos perceberiam a hora de ir embora. A festança começou com “15 Step” e os tambores que anunciavam “There There” anunciavam também a primeira catarse da noite.

Thom Yorke dominou o espaço com sua performance tímida e ao mesmo tempo espontânea e as luzes colocadas em pontos estratégicos, faziam com que não fosse possível desviar os olhos do palco. “Karma Police” fez com que todos se perderam juntos cantando o “I lost my self” em um tom de voz tão suave e leve que dava prazer de ouvir, foi meio hipnótico e absurdamente lindo.

Rolaram sons de todos os álbuns em um set list muito bem organizado, cada música era uma surpresa que mantinha todos num estado eufórico quase 100% do tempo. O guitarrista Johnny Greenwood usou também uma vinheta de rádio em “The National Anthem” que apesar de ter deixado muitos em dúvida achando que fosse uma falha de transmissão, fazia parte dos efeitos do show.

A interação dos caras no palco era completamente harmoniosa e Johnny tocando “Pyramid Song” usando um arco de violino foi outro ponto alto da noite. “Paranoid Android” foi fantástica e o fato de ninguém estar esperando “Fake Plastic Trees” só fez sua introdução ecoar ainda mais alto.

No segundo bis, o pessoal já suspeitava de “House of Cards” e em “You and Whose Army” Thom sentou ao piano com a câmera virada para seu olho, como se tentasse espiar cada reação da platéia.

O “adivinha que som é esse?” do vocalista já anunciava os últimos acordes do festival. E “Creep” (o terceiro Bis!) foi ovacionada em uníssono de um jeito tão verdadeiro que não existem palavras que possam explicar. Enquanto Yorke cantava “I’m a weirdo”, uns caras do meu lado gritavam “eu também” e cada em seu momento pessoal acabou transformando suas emoções em uma energia positiva que se espalhou por todo o lugar. Simplesmente fantástico.

Teve gente que ainda se arriscou a gritar “High and Dry”. Mas, depois de quase duras horas e meia de show não tinha quem mais conseguisse ficar de pé, a sensação era de que tinham puxado de repente a tomada do universo paralelo e era hora de voltar a realidade. Independentemente de quem foi para curtir os sons mais famosos ou não, se era a música do Carlinhos ou não, os caras mostraram que não são banda de um sucesso só e que deixaram um público de 30 mil pessoas ainda mais fã por aqui. Espero que este show seja o primeiro de vários.

SET LIST:
15 Step (In Rainbows)
There There (Hail To The Thief)
The National Anthem (Kid A)
All I Need (In Rainbows)
Pyramid Song (Amnesiac)
Karma Police (Ok Computer)
Nude (In Rainbows)
Weird Fishes/Arpeggi (In Rainbows)
The Gloaming (Hail To The Thief)
Talk Show Host (B-side - Trilha Sonora do filme Romeu e Julieta)
Optimistic (Kid A)
Faust Arp (In Rainbows)
Jigsaw Falling Into Place (In Rainbows)
Idioteque (Kid A)
Climbing Up The Walls (Ok Computer)
Exit Music (For A Film) (Ok Computer)
Bodysnatchers (In Rainbows)

BIS 1
Videotape (In Rainbows)
Paranoid Android (Ok Computer)
Fake Plastic Trees (The Bends)
Lucky (Ok Computer)
Reckoner (In Rainbows)

BIS 2
House of Cards (In Rainbows)
You and Whose Army (Amnesiac)
True Love Waits (I Might Be Wrong)/Everything In Its Right Place (KidA)

BIS 3
Creep (Pablo Honey)

Mais do mesmo:
Com um show tão bom (o melhor dos últimos tempos), muita gente falou coisas extraordinárias sobre suas próprias viagens. Dá uma olhada aqui (onde esta resenha está publicada), aqui (sempre tem algo chato pra tentar estragar a festa) ou aqui (alguns bons motivos para você se arrepender de ter perdido). ;)

Fotos by:
Marcos Hermes

Creep (pois é, mooorra de inveja!)

6 comentários:

Unknown disse...

É, mais uma resenha q me faz chorar de não ter ido, blé! Não vi UMA que falasse mal, acho q nunca li tanto as palavras "catarse", "incrível" e "fantástico".

E sobre a eletrônica, acredito ainda que a escolha de juntar Kraftwerk e Radiohead tenha sido acertada, justamente por achar que as duas bandas são a frente de seu tempo. Mas era claro que muita gente não iria gostar. A eletrônica do Kraftwerk é diferente de qualquer outra. É antiga e moderna. É nostálgica e inovadora. Infelizmente tem um pessoal que não tem cabeça pra isso, mas o legal é justamente isso. Existe quem acha genial, e quem acha que não é música. Assim como tem gente que acha Radiohead uma bosta.

Bem, discussões à parte, pena que não fui com vc :(.

Beijoca!

Unknown disse...

Ah, esqueci. Parabéns, se vingou bem do show do Muse hehe!

Estefani Medeiros disse...

Perrrdeu, playboy! haha

Concordo com vc sobre o acerto na escolha, na verdade vejo até como uma tentativa de introdução e tals, foi uma ideia muito feliz. Mas, o post é mais sobre a minha impressão de quem ta do lado de fora. Curti mto o som, mas continuo achando que não é uma questão de escolha e sim de entender a proposta dos caras.

Enfim, por isso dizem q vingança é um prato que se come frio...muahahahaha

Marcelo Fabri disse...

Se tiver tempo, leia as impressões de um amigo sobre o mesmo show.

Marcelo

Marcelo Fabri disse...

http://www.videodrome.blogger.com.br/
Agora o link, né?
São dois textos...um colado no outro.

Marcelo

ah...sem esquecer...adorei o que falou do Kraftwerk!

Tariana disse...

caralho, não acredito que perdi esse show :(
senti um arrepio na espinha so de ler essa resenha!
beijo sté!