terça-feira, 17 de março de 2009

Dead Fish fala sobre Contra Todos


O Dead Fish vai lançar no próximo fim de semana o tão esperado álbum "Contra Todos" no Hangar 110, em São Paulo. Algumas semanas atrás bati um papo rápido com o Rodrigo e o Alyand na Deck Disk e não, você não vai ler um release ou entrevista extraordinária, nem vai ver um faixa a faixa do álbum. Aqui eles me contaram como se sentem a respeito da saída do Leandro Nô de uma outra forma, sobre a relação deles com o trabalho, qual a influência de São Paulo nas faixas e o que "Contra Todos" tem a ver com Neil Young na visão do Rodrigo.

No começo da entrevista, falo sobre uma conversa que tive com eles em um show que fui em Barueri, você pode conferir essa entrevista pré-álbum aqui.


Faz um tempo que a gente se encontrou no show de Barueri, lembra? Você me disse que o CD estava atrasado, que vocês precisavam lançar rápido...

Rodrigo: Tívemos muito stress com isso, queríamos lançar em junho ou agosto de 2007 e passamos por várias datas de lançamento. Nós anunciávamos na imprensa e ia atrasando, acabou virando um processo de quase um ano e meio no martírio. Nessa época do show de Barueri a gente já tinha um prazo de lançamento.

Alyand: Foi bom por que algumas músicas amadureceram e ficaram muito melhores, algumas tiveram mudanças extremas, quase viraram outras.

Rodrigo: Vieram sons novos também e com mais velocidade, o que era a proposta do disco.

Uma promessa que você cumpriu era que o disco ia ser rápido. Pode-se dizer que vocês voltaram às raízes?

Rodrigo: Pelo menos na parte do arranjo de cordas a ideia era ser bem mais rápido. Na verdade é quase isso, só que não dá para ter 17 anos de novo, né?!

Em um debate com o Branco Mello ele disse que para os Titãs foi um choque descobrir que a banda não era mais uma brincadeira e sim um trabalho. Aconteceu isso com o Dead Fish? Chegou uma hora que vocês começaram a levar como trabalho ou ainda é uma brincadeira de adolescente?

Rodrigo: Eu insisto em achar que isso ainda pode existir. Senão perdemos um pouco da nossa essência. Nossa música tem uma mensagem, uma essência quase inocente, não chega a ser no sentido infantil da palavra. Mas, em vários momentos há alguns anos atrás eu percebi que era trabalho.

Alyand: Acho que no Dead Fish se tomar como trabalho desanima.

Rodrigo: Até por que é um trabalho que não rende fundo de garantia. Fora que não rolaria tanta troca de energia.
Alyand: Acho que o legal é manter a amizade, a coisa de querer mostrar que você tem algo mais para falar na sua música. O desafio de fazer um disco depois de tanto tempo, uma coisa que as pessoas querem ouvir. Temos consciência que é um trabalho, mas não levamos isso ao pé da letra, se tivéssemos levado, talvez a banda já tivesse acabado. Preferimos pensar que ainda somos amigos, ainda temos a banda e que eu me sinto bem ao lado dele. De sentir o nervosismo de estar chegando o fim de semana para o próximo show, o importante é que esse sentimento ainda existe e isso que é legal.

Quando o Nô saiu, rolou insegurança? Tipo: e agora? Será que eu consigo segurar o barco sozinho?

Rodrigo: Eu acho que eu particularmente. Ele era um guerreiro, estava sempre com a gente ali, sempre aquela cara feia que impunha respeito, era uma carranca na frente do barco. Sinto ainda que estou no processo, acho que vamos cair na estrada agora e aí que vou ver o que é a estrada sem o cara. Já fiz shows sem ele, gosto pra caramba do Marco, mas foi uma escolha necessária.
Pela primeira vez na vida a gente não colocou a banda em cima da nossa individualidade.

Alyand: Acho que medo não. Para mim a banda em si é a amizade, não é igual trabalho. Na hora que eu não quiser mais estar com ele, eu vou chegar e falar que não quero mais e acabou independentemente se vai vir muito, pouco ou se não vai vir nada (de grana).

Rodrigo: Até por que a banda não é uma máquina de fazer dinheiro.

Alyand: É, não é o interesse também, a minha essência na banda ainda é a coisa de criança, você tem uma banda com as pessoas que você quer do teu lado. Por isso com a saída do Nô não foi medo, mas um desconforto já que era um cara que tocava há muito tempo comigo. Acho que ele é um cara muito forte e tinha muita coisa para mostrar que escondia, agora ele tem um novo desafio.

O que Contra Todos tem de diferente dos outros álbuns?

Alyand:
Eu não sei o por quê, mas queria que ele fosse um CD como é. Exatamente como é. Rápido, direto e de um banda que faz música sem pensar em consequência de números. De repente a gente tem um disco na mão que é atual, sem ter se programado para nada, ele foi espontâneo.

Rodrigo: O parâmetro de comparação da diferença é o “Um homem só” que é o CD que para a gente está mais estruturado como música. Eu acho que nele fizemos uma tentativa musical que para mim não deu certo, por isso a gente queria retomar um espírito e uma energia que sempre foi a nossa espontaneidade, sempre agradar o “dentro” da banda, fazer ensaio se divertindo.

Alyand: Com o “Zero e Um” foi o mesmo processo, uma coisa mais espontânea. E esse disco foi um dos que a gente se divertiu muito. Mesmo quando surgia a insegurança das músicas que chegavam de cara, foi o disco que eu realmente sonhei e estamos muito felizes com isso.

Rodrigo:
Estamos muito felizes com isso. É muito bom você conseguir chegar onde imaginou, nem sempre isso acontece. Eu nunca tinha ouvido nada da minha banda, a gente nunca ouve por muito tempo e agora ouvimos três, quatro vezes a mesma música.

E de onde veio o Contra Todos? No que vocês se inspiraram?

Alyand: Em todo processo de composição de disco eu me fecho para outras coisas. Mas, no meio do processo deste, eu me abri para coisas mais antigas tipo Ônix, Biohazard uns negócios que não tinha nada a ver com que a gente estava fazendo ali. Talvez isso tenha ajudado também.

Rodrigo: Eu não ouço mais hardcore, raramente ouço. Mas, nesse CD eu quis pegar um pouco da essência, por isso eu peguei e ouvi um pouco de Propagandi e um pouco das minhas coisas antigas, a formação dele (Alyand) é mais metal. A minha é mais punk rock tipo Black Flag, Circle Jerks e nas composições junto com o Felipe ouvíamos Faith No More e tiveram mais coisas aí, coisas que não tem muito a ver com o cd. Eu lembro que chamava a música Contra-Todos de Neil Young e ninguém entendia, só eu entendo até hoje por que era Neil Young, a levada era cruzona e no fim não tem nada a ver, mas eu lembro que o título lá atrás era esse.

As letras do Dead Fish tem uma característuica de protesto e reinvidicação. Como vocês conseguem transformar as coisas ruins do dia-a-dia em algo positivo?

Rodrigo: Você acha que é positivo?

O tema pode ser negativo, mas o fato de reivindicar não é positivo?

Rodrigo: Ah, é da minha índole, da minha formação. Esses dias teve um jornalista muito chato que ficou me perguntando qual era a inspiração. E eu falei que a cidade de São Paulo teve um peso muito grande, você pode ver pelas cores do CD, pelas letras. Eu moro no centro de São Paulo, eu amo essa cidade. Acho o lugar mais bonito e podre do mundo e essa foi a inspiração, acho que ele ficou um pouco indignado por eu ser um capixaba e falar da cidade e tecer críticas. Eu fiz a letra de "Contra Todos" depois que um mendigo morreu na porta da minha casa. Eu não tenho que achar que São Paulo é Manhattan como um monte de gente acha. E aí o cara ficou meio insultado com isso e ficou sacaneando meu sotaque, perguntando o que eu comprava em SP que não tinha no Espírito Santo. Minha inspiração é o meu meio, é onde eu vivo. Meu pai era um cara de esquerda, me ensinou o não conformismo que é um espírito de cidadania necessário, você ter a noção do meio que você vive e bom senso. Eu gosto de onde eu estou, é a cidade que me escolheu e que eu escolhi, mas não é por isso que eu tenho que achar que isso é “hype demais” ou “balada” entende? Qualquer movimento cultural paulistano/paulista tem a cor e a forma da cidade. Como estávamos inseridos nessa realidade foi o que rolou.

Alyand: E esse é um processo legal, desde “Zero e Um” a gente já envolve a cidade de São Paulo nas letras. O engarrafamento e as coisas que a gente vive aqui.

Vocês disseram no site que era o um dos melhores discos de hardcore do ano. Quais são as apostas ou preferências para 2009?

Rodrigo: Eu Serei a Hiena que eu fiz uma participação, mas q não é hardcore, é um post-hardcore, post-punk, rotulem como quiserem que eu acho interessantíssimo e um trabalho instrumental muito bem feito. Tem umas coisas legais do ano passado que eu queria relembrar tipo Descarga que é uma banda que eu tenho paixão com uma capa legal, o nome é “Canções para Guerra”, tem uma mulher com o rosto como se fosse o céu.

Alyand: Tem também o Garage Fuzz, que é uma banda super esperada e para mim a melhor ao vivo do Brasil no cenário independente.

Rodrigo: Eu também gostei do Kamal o rapper, é legal o CD dele. Tem o logo da bandeira da cidade (NON DUCOR DUCO) que quer dizer “Eu não sou conduzido eu conduzo”.

Para você qual é o papel da mulher na música?

Rodrigo:
A mulher sempre teve um papel importante no rock, elas sempre foram temas de letras desde o R&B e tem coisas maravilhosas falando sobre mulheres no rock mundial. Dos anos 70 pra frente elas passaram a ser parte do todo, a aparecer mais como artistas, criando e aparecendo no cenário. Desde Aretha Franklin ( que considero bastante roqueira) até Pitty no Brazaland. As mulheres tem um peso hoje bastante importante no cenário rock mundial, elas trazem uma visão bem diferente da dos homens e isso é muito relevante. Sem falar que o visual em cima do palco fica bem mais delicado e agradável do que só machos suados.

Para quem quiser ir ao show:
20, 21 e 22 de março
Local: Hangar 110 (Rua Rodolfo Miranda, 110 - Bom Retiro)
Tel.: 11 9389-3365 / 11 3229-7442
Horário de abertura da casa: a partir das 19h (ver programação completa abaixo)

20/03/2009 Sexta-feira às 19h00
(SHOW EXTRA) DEAD FISH / GARAGE FUZZ / QUESTIONS
ANTECIPADOS R$ 15 (1ºlote) 20 (2ºlote)

21/03/2009 Sábado às 19h00
DEAD FISH / GARAGE FUZZ / ZANDER / GOOD INTENTIONS
ANTECIPADOS R$ R$ 20 (2ºlote)

22/03/2009 Domingo às 19h00
DEAD FISH / CONFRONTO / ZANDER / NERDS ATTACK
ANTECIPADOS R$ 15 (1ºlote) R$ 20 (2ºlote)

Para compras antecipadas: R. 24 de Maio, 62 - loja 255 - f: 3361-6951) e Flame (R. 24 de Maio, 62 - loja 222 - f: 3224-8916

Um comentário:

Anônimo disse...

foi mal... boa matéria e interessante a visao dos garotos referente ao rock femenino.

até...