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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Cachorro Grande fala sobre Cinema, Patti Smith e música

Chegamos ao local combinado com a assessoria da Deck uns dez minutos antes do horário marcado. Um jornalista (do Terra?) saia da sala onde se encontravam o vocalista Beto Bruno e o Guitarrista Marcelo Gross e se despedia dizendo "acho que ficou legal, o Beto é bom de aspas". Bem, nem preciso dizer que isso só reforçou a minha vontade de largar a cartilha jornalística na porta e lançar um foda-se para as aspas. Por isso e como sempre, você vai ler essa entrevista mais como uma conversa curiosa sobre música e "Cinema" o novo álbum da banda, do que um entrevista-resenha do álbum. Se quiser mais, dá uma circulada nos maiores portais de música por aí (YES, you can!) tem uma infinidade de coisas legais sobre o assunto.

O resultado foi esse: Beto e Marcelo falando o que os incomoda no modo como ouvimos/sentimos/curtimos música hoje, as mulheres que merecem uma "homenagem" no rock e a vontade da banda de lançar remix dos seus sons por conta do Peu, da Goma. Espero que goste =)

Sobre "Cinema"

"Cinema" é space rock, é sonoplástico, é Stones, é Beatles, é rock and roll cru, é viagem, é dançante, é Cachorro Grande. Além de transparente quanto ao repertório musical da banda, tem a fórmula animada que sempre está presente nos álbuns dos caras com um plus perceptível de liberdade para criar em cada instrumento. A palavra chave foi experimentação e o capricho para gravar, mixar e encaixar os acordes de cada música fez toda a diferença no resultado final do álbum que levou um tapa do já conhecido produtor Rafael Ramos. Se não ouviu ainda, já está disponível no MySpace oficial. O show de lançamento vai acontecer nos dias 7 e 8 de agosto no SESC Pompéia, encontre mais informações aqui.

ENTREVISTA

Estefani: Além da gravação analógica, de poder mostrar outros lados da banda o que vocês mais curtiram fazer nesse álbum?

Beto: A gente gostou de trabalhar as músicas sem pressa, uma por dia. Gravamos uma parte em Porto Alegre e depois mais três dias no Rio de Janeiro. Conseguimos dar um tratamento especial para cada música e isso foi o que a gente mais curtiu. Isso ressaltou e fez com que cada uma soasse de uma maneira diferente dos outros discos e remetendo a outras sonoridades. Tipo o álbum branco dos Beatles (pelo o amor de Deus, não vá entender mal), mas cada música é uma música. Aquele disco do Led Zeppelin “Houses Of The Holy” ou no “Jardim Elétrico” dos Mutantes, cada música é uma música. E eu curto muito isso. Não é dar tiro para todo lado, é gostar de muitas coisas. E o legal é que no fim tudo acabou soando Cachorro Grande.

Estefani: Quanto a essa temática cinematográfica, o lance do efeito das gaivotas, o barulho do disco arranhando entre outras coisas. Vocês já haviam planejado? Já tinham essas idéias, ou rolou a inspiração na hora?

Beto: Essa parte das gaivotas era para lembrar o "Amarcord" do Fellini. A gente já tinha pensado nisso nas primeiras demos, numa fita caseira. O resto da sonoplastia, um ventinho aqui, um barulhinho ali a gente foi fazendo e achou que tinha cara de cinema, o Marcelo queria que o álbum tivesse esse nome desde o começo e nos últimos dias de ensaio ele estava meio (fazendo sinal de bebida) no estúdio e disse “vai ser Cinema” e foi Cinema. Pronto. Todo mundo amou a ideia, daí pedimos pro Cisco Vasques fazer a imagem da capa e fechamos.

Estefani: Vocês lançaram o álbum primeiro no Myspace, qual a relação da banda com a pirataria?

Beto: A gente vem trabalhando com uma boa assessoria que atualiza nossos meios, estamos aprendendo a lidar com o twitter e deixamos o álbum disponível para download. O legal é que a galera conhece a música nova antes do show e antes do CD físico sair, isso nunca tinha acontecido antes. E muita coisa a gente tenta ver com o olhar do fã, acho que acima de tudo nós somos fãs de rock. Se tivesse isso nos anos 80 quando eu era uma criança, a oportunidade de acompanhar o dia-a-dia dos caras e todo esse universo por uma telinha, ia ser uma maravilha. Para conseguir um disco do The Who a gente tinha que se deslocar para a capital para comprar. Se alguém saia do país era “traz aquele do The Who que eu não tenho”. Hoje a minha filha vai numa página e baixa a discografia em cinco segundos.

Marcelo: É, se a gente gosta de encontrar coisas sobre nossos ídolos, também procuramos deixar material disponível para os nossos fãs.

Beto: A única coisa que eu encano é a seguinte: a qualidade com que ouvem o som. Nos preocupamos muito com a parte sonora no estúdio, ouve pelo menos em um fone bom. E outra coisa, ouvir enquanto faz outra coisa. A gente se preocupou em trazer uma caixa daqui de São Paulo para Porto Alegre que faz aquela diferença no som que você não vai perceber nas caixinhas do computador. A geração mais nova não tem mais o costume de parar e ouvir um som. Quando eu comprava um disco no centro, vinha para casa babando ele, curtindo a capa, chegava em casa, ouvia sentado. Ficava só ouvindo, chamava os amigos e fica só ouvindo o som. Hoje não tem isso, as pessoas fazem coletânea e não curtem isso. Quando um fã chega e fala “baixei o álbum e tô ouvindo no computador” é muito triste.

Peu: Acho que quem gosta de música acaba investindo para ter uma qualidade melhor no áudio.

Beto: Talvez a resposta certa é que cada vez menos as pessoas gostem de música.

Estefani: Vocês têm vontade de gravar no vinil? A gravadora de vocês comprou a fábrica agora, não é?!

Beto: O álbum vai sair em vinil, eles (a Deck Disk) compraram A fábrica. Agora vão lançar um tipo de selo e lançar algumas coisas, perto do natal vão rolar uns discos da deck e o nosso vai estar junto. É um sonho meu ter gravado analógico para sair em vinil, vai ser diferente. Tem banda gravando em ProTools [programa de edição] para lançar em vinil e é a mesma coisa de gravar do CD pro Vinil, além disso, também acaba virando um souvenir. Os discos novos vem em 180g, lacrados e com uma qualidade incrível. Essas bandas novas eu compro só em vinil, aproveito a internet assim. Vou lá e vejo: saiu o novo do Kasabian, curto, acho muito legal, vou no E-bay e peço o vinil. Um puta som. Não tem romantismo, a coleção que os Beatles lançaram em 2006/2007 é a melhor compilação dos Beatles que já existiu. As cápsulas de hoje são melhores, isso reflete muito no som, muita coisa hoje em dia melhorou. E lá fora eles nunca pararam de ser lançados.

Estefani: Qual a influência das mulheres no som de vocês? Qual a musa inspiradora da banda?

Beto: São várias. Patti Smith, mas mais a parte do "Radio Ethiopia" do que do "Horse". Os discos da Nico também, ela é minha maior ídola. Mariane Faithfull na década de 69. Quem não gosta da Chrissie Hynde do Pretenders? Naquela época era uma chapação. Quem nunca bateu punheta para ela? Se bem que essa parte não é tão musical. Já não bateria punheta para a Patti Smith, uma mulher que quer ficar parecida com o Keith Richards não dá. (risos)

Estefani: Você falou no blog da banda que é preciso ser verdadeiro e colocar a música no primeiro plano, o que você enxerga nos músicos de hoje?

Beto: Não generalizando, se você cavucar você vai encontrar umas bandas boas. Mas, acho que nessa fase atual, nunca teve tanta banda fake. Quatro caras bonitinhos que se juntam por causa das meninas. Não são quatro carinhas que ouviam música juntos na escola, sonhando que um dia iriam montar uma banda, que foram unidos pela música. Tem gente que a usa só como meio pra ficar famoso, só usa o rock como veículo, querem aparecer no jornal e ficar ricas. Se no meio do caminho ele achar que quer ser modelo, ele vira modelo, se acha que pode ser ator, vai ser ator. Nada ele vai fazer com amor. Por isso, cada vez mais tem bandas com carreiras meteóricas e isso não é bom. É importante saber usar a imagem, os Beatles e os Stones trabalharam isso bem. Quando chegou no New York Dolls já caiu um pouco. O Bowie [David Bowie] tem a fase meio batom, mas também é controlado. É legal um cara te olhar na rua e identificar: aquele ali tem uma banda. É ótimo que seja assim, mas o importante é não deixar o cabelo crescer antes de tocar guitarra.

Peu: Eu queria saber se vocês se interessam por música eletrônica, já ouviram, curtem?

Beto: Gosto muito. A primeira coisa que considero eletrônica é “Tomorrow Never Knows” [faixa do álbum Revolver dos Beatles] que é uma repetição em cima de um looping. O Pink Floyd no Dark Side [Of The Moon] gravado no Abbey Road também. Gosto do Can e do Kraftwerk que foram o início. Mas eu piro mesmo na parte do Bowie eletrônico em Berlim, que considero o auge da música eletrônica puxada pro rock. Muito bom gosto e também porque depois em 98 e 99 contribuiu para que o Prodigy e o Chemical Brothers estourassem, que eu acho genial. Tem coisa boa, mas como qualquer outro gênero tem coisa ruim. Não gosto de DJ’s que compõem musica pra tocar em boates específicas e sim compositores que usam os recursos da música eletrônica. E eu acho do caralho. No disco anterior a esse, tem uma bateria eletrônica a partir de uns samplers nossos. Já nesse, na música “A Voz do Brasil” a gente fez uns loopings eletrônicos, gravou, tirou os graves dela e montou um looping em cima daquilo, acaba sendo uma bateria eletrônica só que tocada, com o samplier por baixo e ele tocando normal por cima. Coisa que o Chemical Brothers faz também e eu sou apaixonado. O último do Prodigy é uma paulada ["Invaders Must Die"]. Gosto do que o Chemical Brothers faz com os singles do Oasis, do Supergrass e do Bowie porque os remixes são lado B. Eles pegam aquela coisa que o Kraftwerk criou nos estúdios de Berlim em 77.

Beto: O Marcelo também gosta. Ele não é uma múmia country. (risos)

Marcelo: Eu gosto também, principalmente de Prodigy e Chemical.

Peu: Daft Punk também?

Beto: Também, mas não comprei o disco e parei para ouvir.

Marcelo: Tem um disco maluco de música eletrônica de um cara que remixou o Álbum Branco com as músicas dos Beatles [The Gray Álbum do Danger Mouse] , é fantástico e compensa ser ouvido.

Peu: Tem várias bandas como U2 e Lenny Kravitz no exterior que estão criando costume de lançar as músicas em remix, vocês fariam algum? Podemos esperar remixes de vocês?

Beto: Claro que sim. Só que a gente não acha um cara para fazer.

Peu: Tem um cara que remixou o Arnaldo Antunes [Killer On The Dancefloor], a pedido do Arnaldo e ficou muito legal.

Beto: Acho que o Edu K também tem embasamento para fazer uma coisa legal, meio anos 80.

Peu: Tem várias músicas que dariam remixes ótimos, por causa das batidas.

Beto: “A Hora do Brasil” e a música que é single “Dance Agora” dariam ótimos remixes. A minha vontade era dar uma música para cada DJ e fazer um álbum de remix. Estilo Danger Mouse, uma coisa pronta pra tocar na balada.

Peu: Eu adoraria tocar uma música de vocês na balada.

Beto: Tá dada a dica.

Estefani: Como rolou o Oasis?

Beto: Se você me perguntar daqui alguns anos vou saber te responder, agora ainda estou meio desnorteado com o que aconteceu. Nosso empresário já sabia, escondeu da gente cinco dias.

Estefani: Eles ficaram pra ver o show?

Beto: Sim, e eu estava mais nervoso com eles ali do lado do que com as 10 mil pessoas a nossa frente, uma hora fui tomar uma água e o Sergio [empresário] estava lá e falou “tu viu quem tá ali?”. Eu nem olhei mas pedi pra ele falar e ele respondeu “Liam Galagher”. Meu ídolo cara, sou fã dele. Dele e de todos os caras bons da nossa geração o Oasis, o Supergrass.

Estefani: Qual o sonho de vocês depois disso?

Beto: Talvez eu corte meu pinto (hahahaha, brincadeira). Ver o Paul, né?!

Marcelo: Depois que já assisti um show do Paul e do Neil Young tenho que me cuidar. Dá pra morrer já.

Peu: Vocês já pensaram em tocar no Coachella, Glastonbury, esses grandes festivais?

Beto: Claro. Mas, a gente não tem tempo. Não somos nem tão grandes como os Titãs que podem viajar e tocar e nem o Garotas Suecas que fazem um show por mês o resto do tempo lá tentando.

Teaserzinho de lançamento de Cinema:

Para o Mundo Rock de Calcinha e também publicada na Goma.
Fotos: Cal Crepaldi, mais imagens da entrevista aqui.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Tom Morello fala sobre shows, novo álbum e RATM!

Já sentiu saudade de uma banda? Daquelas que geralmente são ligadas a um pedaço da sua vida que não vai voltar mais? Pois é, me sinto assim agora. E essa banda é o Rage Against the Machine. Mais que simplesmente um som para ouvir no antigo "discman", relembrar o Evil Empire e o The Battle of Los Angeles são praticamente viagens no tempo para mim.

Dei play na discografia e desembestei a escrever, assim, sem mais nem menos. Durante a postagem coincidentemente fui interrompida por duas ligações de amigos que passaram por várias dessas situações doidas comigo e acabei lembrando de uma demo engraçadíssima que gravei com uma banda de escola chamada Amoxilina. Dentre outras bizarrices tinha uma versão antigassa de "Killing in the Name" com a minha voz chata de menina de 11 anos brincando de rockstar. Valeu galera por dizer na época que era bom, agora entendo o que vocês passavam. haha

Enfim, os anos passaram, desencanamos de queimar bandeira no pátio, mas o RATM continuou sendo uma PUTA banda. Acompanhei com dor no coração o Zack de la Rocha deixá-los a mercê do Audioslave que também foi febre (mas, que como toda fabricação de gravadora não durou muito) e se aventurar no One Day as a Lion. Em 2007, para a felicidade alheia eles anunciaram reunião, alguns shows, mas nada de volta oficial.

Entrei no site e fucei algumas coisas. Acabei descobrindo que o guitarrista Tom Morello tinha dado uma entrevista ao jornalista Ken Hively do LA Times ontem e dei um ctrl+f na palavra new album. Infelizmente Tom diz que não vai rolar tão cedo, mas que os fãs podem esperar por mais shows no futuro. Na entrevista feita em um debate do Grammy Museum, onde estavam discutindo o filme "Songs of Conscience, Sounds of Freedom" ele ainda fala sobre o envolvimento com a política, Obama, militância e o início de sua carreira musical. Se quiser ler a matéria na íntegra está aqui.

Bem, eu sou pirada no Rage. Espero sinceramente que eles lancem algo novo, principalmente porque são músicos incríveis. Além de tocar pra caralho são caras que não se prendem a uma punhetação de solo de 10 minutos para ser bons e sim a uma estrutura nova de música, a ruídos feitos com os próprios instrumentos e pedais, são completamente rendidos a experimentação e sabem muito bem o que estão fazendo. Só pelo potencial de cada um deles, esse trabalho valeria muito a pena.

Esse vídeo é de um dos seus últimos shows, no festival beneficiente Optimus Alive em 2008. A gravação está meio ruim, mas é só para ver que os caras estão longe de perder a forma ;)

terça-feira, 17 de março de 2009

Dead Fish fala sobre Contra Todos


O Dead Fish vai lançar no próximo fim de semana o tão esperado álbum "Contra Todos" no Hangar 110, em São Paulo. Algumas semanas atrás bati um papo rápido com o Rodrigo e o Alyand na Deck Disk e não, você não vai ler um release ou entrevista extraordinária, nem vai ver um faixa a faixa do álbum. Aqui eles me contaram como se sentem a respeito da saída do Leandro Nô de uma outra forma, sobre a relação deles com o trabalho, qual a influência de São Paulo nas faixas e o que "Contra Todos" tem a ver com Neil Young na visão do Rodrigo.

No começo da entrevista, falo sobre uma conversa que tive com eles em um show que fui em Barueri, você pode conferir essa entrevista pré-álbum aqui.


Faz um tempo que a gente se encontrou no show de Barueri, lembra? Você me disse que o CD estava atrasado, que vocês precisavam lançar rápido...

Rodrigo: Tívemos muito stress com isso, queríamos lançar em junho ou agosto de 2007 e passamos por várias datas de lançamento. Nós anunciávamos na imprensa e ia atrasando, acabou virando um processo de quase um ano e meio no martírio. Nessa época do show de Barueri a gente já tinha um prazo de lançamento.

Alyand: Foi bom por que algumas músicas amadureceram e ficaram muito melhores, algumas tiveram mudanças extremas, quase viraram outras.

Rodrigo: Vieram sons novos também e com mais velocidade, o que era a proposta do disco.

Uma promessa que você cumpriu era que o disco ia ser rápido. Pode-se dizer que vocês voltaram às raízes?

Rodrigo: Pelo menos na parte do arranjo de cordas a ideia era ser bem mais rápido. Na verdade é quase isso, só que não dá para ter 17 anos de novo, né?!

Em um debate com o Branco Mello ele disse que para os Titãs foi um choque descobrir que a banda não era mais uma brincadeira e sim um trabalho. Aconteceu isso com o Dead Fish? Chegou uma hora que vocês começaram a levar como trabalho ou ainda é uma brincadeira de adolescente?

Rodrigo: Eu insisto em achar que isso ainda pode existir. Senão perdemos um pouco da nossa essência. Nossa música tem uma mensagem, uma essência quase inocente, não chega a ser no sentido infantil da palavra. Mas, em vários momentos há alguns anos atrás eu percebi que era trabalho.

Alyand: Acho que no Dead Fish se tomar como trabalho desanima.

Rodrigo: Até por que é um trabalho que não rende fundo de garantia. Fora que não rolaria tanta troca de energia.
Alyand: Acho que o legal é manter a amizade, a coisa de querer mostrar que você tem algo mais para falar na sua música. O desafio de fazer um disco depois de tanto tempo, uma coisa que as pessoas querem ouvir. Temos consciência que é um trabalho, mas não levamos isso ao pé da letra, se tivéssemos levado, talvez a banda já tivesse acabado. Preferimos pensar que ainda somos amigos, ainda temos a banda e que eu me sinto bem ao lado dele. De sentir o nervosismo de estar chegando o fim de semana para o próximo show, o importante é que esse sentimento ainda existe e isso que é legal.

Quando o Nô saiu, rolou insegurança? Tipo: e agora? Será que eu consigo segurar o barco sozinho?

Rodrigo: Eu acho que eu particularmente. Ele era um guerreiro, estava sempre com a gente ali, sempre aquela cara feia que impunha respeito, era uma carranca na frente do barco. Sinto ainda que estou no processo, acho que vamos cair na estrada agora e aí que vou ver o que é a estrada sem o cara. Já fiz shows sem ele, gosto pra caramba do Marco, mas foi uma escolha necessária.
Pela primeira vez na vida a gente não colocou a banda em cima da nossa individualidade.

Alyand: Acho que medo não. Para mim a banda em si é a amizade, não é igual trabalho. Na hora que eu não quiser mais estar com ele, eu vou chegar e falar que não quero mais e acabou independentemente se vai vir muito, pouco ou se não vai vir nada (de grana).

Rodrigo: Até por que a banda não é uma máquina de fazer dinheiro.

Alyand: É, não é o interesse também, a minha essência na banda ainda é a coisa de criança, você tem uma banda com as pessoas que você quer do teu lado. Por isso com a saída do Nô não foi medo, mas um desconforto já que era um cara que tocava há muito tempo comigo. Acho que ele é um cara muito forte e tinha muita coisa para mostrar que escondia, agora ele tem um novo desafio.

O que Contra Todos tem de diferente dos outros álbuns?

Alyand:
Eu não sei o por quê, mas queria que ele fosse um CD como é. Exatamente como é. Rápido, direto e de um banda que faz música sem pensar em consequência de números. De repente a gente tem um disco na mão que é atual, sem ter se programado para nada, ele foi espontâneo.

Rodrigo: O parâmetro de comparação da diferença é o “Um homem só” que é o CD que para a gente está mais estruturado como música. Eu acho que nele fizemos uma tentativa musical que para mim não deu certo, por isso a gente queria retomar um espírito e uma energia que sempre foi a nossa espontaneidade, sempre agradar o “dentro” da banda, fazer ensaio se divertindo.

Alyand: Com o “Zero e Um” foi o mesmo processo, uma coisa mais espontânea. E esse disco foi um dos que a gente se divertiu muito. Mesmo quando surgia a insegurança das músicas que chegavam de cara, foi o disco que eu realmente sonhei e estamos muito felizes com isso.

Rodrigo:
Estamos muito felizes com isso. É muito bom você conseguir chegar onde imaginou, nem sempre isso acontece. Eu nunca tinha ouvido nada da minha banda, a gente nunca ouve por muito tempo e agora ouvimos três, quatro vezes a mesma música.

E de onde veio o Contra Todos? No que vocês se inspiraram?

Alyand: Em todo processo de composição de disco eu me fecho para outras coisas. Mas, no meio do processo deste, eu me abri para coisas mais antigas tipo Ônix, Biohazard uns negócios que não tinha nada a ver com que a gente estava fazendo ali. Talvez isso tenha ajudado também.

Rodrigo: Eu não ouço mais hardcore, raramente ouço. Mas, nesse CD eu quis pegar um pouco da essência, por isso eu peguei e ouvi um pouco de Propagandi e um pouco das minhas coisas antigas, a formação dele (Alyand) é mais metal. A minha é mais punk rock tipo Black Flag, Circle Jerks e nas composições junto com o Felipe ouvíamos Faith No More e tiveram mais coisas aí, coisas que não tem muito a ver com o cd. Eu lembro que chamava a música Contra-Todos de Neil Young e ninguém entendia, só eu entendo até hoje por que era Neil Young, a levada era cruzona e no fim não tem nada a ver, mas eu lembro que o título lá atrás era esse.

As letras do Dead Fish tem uma característuica de protesto e reinvidicação. Como vocês conseguem transformar as coisas ruins do dia-a-dia em algo positivo?

Rodrigo: Você acha que é positivo?

O tema pode ser negativo, mas o fato de reivindicar não é positivo?

Rodrigo: Ah, é da minha índole, da minha formação. Esses dias teve um jornalista muito chato que ficou me perguntando qual era a inspiração. E eu falei que a cidade de São Paulo teve um peso muito grande, você pode ver pelas cores do CD, pelas letras. Eu moro no centro de São Paulo, eu amo essa cidade. Acho o lugar mais bonito e podre do mundo e essa foi a inspiração, acho que ele ficou um pouco indignado por eu ser um capixaba e falar da cidade e tecer críticas. Eu fiz a letra de "Contra Todos" depois que um mendigo morreu na porta da minha casa. Eu não tenho que achar que São Paulo é Manhattan como um monte de gente acha. E aí o cara ficou meio insultado com isso e ficou sacaneando meu sotaque, perguntando o que eu comprava em SP que não tinha no Espírito Santo. Minha inspiração é o meu meio, é onde eu vivo. Meu pai era um cara de esquerda, me ensinou o não conformismo que é um espírito de cidadania necessário, você ter a noção do meio que você vive e bom senso. Eu gosto de onde eu estou, é a cidade que me escolheu e que eu escolhi, mas não é por isso que eu tenho que achar que isso é “hype demais” ou “balada” entende? Qualquer movimento cultural paulistano/paulista tem a cor e a forma da cidade. Como estávamos inseridos nessa realidade foi o que rolou.

Alyand: E esse é um processo legal, desde “Zero e Um” a gente já envolve a cidade de São Paulo nas letras. O engarrafamento e as coisas que a gente vive aqui.

Vocês disseram no site que era o um dos melhores discos de hardcore do ano. Quais são as apostas ou preferências para 2009?

Rodrigo: Eu Serei a Hiena que eu fiz uma participação, mas q não é hardcore, é um post-hardcore, post-punk, rotulem como quiserem que eu acho interessantíssimo e um trabalho instrumental muito bem feito. Tem umas coisas legais do ano passado que eu queria relembrar tipo Descarga que é uma banda que eu tenho paixão com uma capa legal, o nome é “Canções para Guerra”, tem uma mulher com o rosto como se fosse o céu.

Alyand: Tem também o Garage Fuzz, que é uma banda super esperada e para mim a melhor ao vivo do Brasil no cenário independente.

Rodrigo: Eu também gostei do Kamal o rapper, é legal o CD dele. Tem o logo da bandeira da cidade (NON DUCOR DUCO) que quer dizer “Eu não sou conduzido eu conduzo”.

Para você qual é o papel da mulher na música?

Rodrigo:
A mulher sempre teve um papel importante no rock, elas sempre foram temas de letras desde o R&B e tem coisas maravilhosas falando sobre mulheres no rock mundial. Dos anos 70 pra frente elas passaram a ser parte do todo, a aparecer mais como artistas, criando e aparecendo no cenário. Desde Aretha Franklin ( que considero bastante roqueira) até Pitty no Brazaland. As mulheres tem um peso hoje bastante importante no cenário rock mundial, elas trazem uma visão bem diferente da dos homens e isso é muito relevante. Sem falar que o visual em cima do palco fica bem mais delicado e agradável do que só machos suados.

Para quem quiser ir ao show:
20, 21 e 22 de março
Local: Hangar 110 (Rua Rodolfo Miranda, 110 - Bom Retiro)
Tel.: 11 9389-3365 / 11 3229-7442
Horário de abertura da casa: a partir das 19h (ver programação completa abaixo)

20/03/2009 Sexta-feira às 19h00
(SHOW EXTRA) DEAD FISH / GARAGE FUZZ / QUESTIONS
ANTECIPADOS R$ 15 (1ºlote) 20 (2ºlote)

21/03/2009 Sábado às 19h00
DEAD FISH / GARAGE FUZZ / ZANDER / GOOD INTENTIONS
ANTECIPADOS R$ R$ 20 (2ºlote)

22/03/2009 Domingo às 19h00
DEAD FISH / CONFRONTO / ZANDER / NERDS ATTACK
ANTECIPADOS R$ 15 (1ºlote) R$ 20 (2ºlote)

Para compras antecipadas: R. 24 de Maio, 62 - loja 255 - f: 3361-6951) e Flame (R. 24 de Maio, 62 - loja 222 - f: 3224-8916

segunda-feira, 16 de março de 2009

Entrevista com a banda Mixtape

Conversei com a Priscila, vocalista e guitarra do Mixtape para conhecer um pouco mais sobre a banda e saber o que as garotas pensam. Elas já estão batalhando há um ano na cena curitibana e além de dar uma força para os profissionais locais, estão com o álbum "O Tormento do Tempo" saindo do forno, com direito a festança de lançamento marcada para o dia 14 de junho! Na entrevista ela falou sobre como a banda vem trabalhando, contou um pouco das correrias do dia-a-dia e ainda deu seus pitacos sobre visual, rock and roll e preconceito.

A banda tem só um ano. Antes disso vocês tocavam em algum lugar? Como surgiu o interesse de cada uma? Quando começaram a vida no rock and roll? Enfim, como surgiu o Mixtape?

Conheci a Helen e a Rê em 2003. As duas já se conheciam. A Rê já tinha tocado bateria quando era mais nova, mas tinha abandonado a música por causa do trabalho. Eu tocava violão e piano e quando a Helen me apresentou à Rê comentou que ela era baterista. Aí falei pra Helen que ela podia tocar baixo e a gente podia brincar nos fins de semana. Foi o que aconteceu, tocávamos todos os fins de semana na varanda da casa da vó da Helen, mas não compúnhamos nada. Só fazíamos alguns covers, levávamos a banda como uma brincadeira mesmo, nem tínhamos a intenção de tocar pro público. Depois de um ano paramos com a brincadeira porque estávamos todas em um ritmo meio alucinado de trabalho. A coisa morreu e voltamos a tocar só no início do ano passado, quando mais uma vez por brincadeira comprei um gravador digital e escrevi umas músicas. Mostrei pra elas, piramos com arranjos e disponibilizamos as músicas na internet pra ver no que dava. Pra nossa surpresa a aceitação foi excelente e em 1 semana nosso myspace já tinha mais de 2.000 plays e nossa comunidade no Orkut, em um mês, tinha quase 2.000 membros. Então resolvemos levar a brincadeira à sério.

Quais as suas principais influências? Seus ídolos e também bandas que detestam.


Cada uma têm influências diversificadas, mas em comum gostamos de bandas e cantores(as) como Pink, Pato Fu, The Killers, The Cranberries, No Doubt entre outros. Bandas que detestamos? Tem muita banda que não agrada a gente em matéria de som, mas mesmo assim não detestamos ou deixamos de respeitar, afinal sabemos que qualquer banda que chegou aos nossos ouvidos, chegou com mérito e esforço daquela banda.

Quais são as principais dificuldades que uma banda de mulheres ainda enfrenta? Rola algum tipo de preconceito?

Olha, até agora não sofremos com preconceito. Já ouvimos um ou dois comentários que tinham um quê de machismo, mas enfrentamos como qualquer outra crítica. Claro que quando se tem uma banda de mulher existe uma expectativa maior do público, pois inconscientemente ainda existe preconceito por ser algo relativamente novo pro rock. Mas pra gente tudo tem corrido bem até aqui! Haha.

Viver de música está cada dia mais difícil, hoje em dia o que vocês consideram ser uma banda bem sucedida?

Uma banda bem sucedida pra gente, é ser uma banda que conquistou seu espaço no mercado e tem fãs que consumam produtos/shows da banda suficiente para sustentá-la.

Como é o underground curitibano? No que vocês contribuem com ele? Vocês costumam organizar festivais com outras bandas para incentivar a cena ou ficam mais nos bastidores?


O público curitibano é excelente. Tem bastante banda que reclama do público que não apóia a cena local, mas nesse pouco tempo de estrada notamos que o público reflete o esforço de cada banda em buscá-lo. A gente valoriza muito a cena local e procuramos divulgar nossa música o máximo possível na cidade, afinal vivemos aqui e é aqui que podemos fazer com que as coisas aconteçam antes de mais nada. Com o auxílio de parceiros, já organizamos um festival de bandas femininas aqui em Curitiba, mas nosso maior apoio à cena está relacionado à equipe com a qual trabalhamos. Nossa divulgação tem ainda o maior foco em Curitiba, nosso CD está sendo gravado e produzido em Curitiba, por profissionais curitibanos, nosso videoclipe também. Estamos preparando um super lançamento aqui pra Curitiba. Enfim, são coisas que parecem não ser significantes mas acabam sendo, já que hoje grande parte das bandas daqui procuram profissionais em São Paulo e Rio de Janeiro para realizar seus trabalhos.

Vocês acham que o visual contribui na hora de vender a banda? No fim das contas o que importa mais a imagem ou o som?

O visual ajuda sim. É como colocar dois produtos em uma prateleira: um com uma embalagem que chame atenção do público, e outro que seja simplesmente um produto que serve para a finalidade descrita. As pessoas são visuais, elas vão querer a que tem uma embalagem legal. Mas também não são burras, então vão avaliar o conteúdo. Se comprarem um produto cuja embalagem é legal e o conteúdo não condizer com ela, nunca mais irão consumi-lo. Desta forma, vemos que a embalagem é tão importante quanto o som e vice e versa.

Vocês fazem músicas que falam sobre amor e temas do cotidiano e tem muita gente que acha que mais uma banda falando sobre isso é clichê, o que vocês acham disso? O que vocês acham que o Mixtape tem de diferente?

Respondo com a pergunta: o que não seria clichê em uma época em que já se falou sobre quase tudo? As pessoas escrevem sobre o que elas vivem ou presenciam. Se falássemos sobre política ou meio ambiente, existiriam críticas da mesma forma. As primeiras cinco músicas do cd falam sobre amor, mas procuramos diversificar nas outras 5 músicas, falando sobre dilemas que afligem a vida das pessoas, como o preconceito, a falta de tempo, a forma que as pessoas levam suas vidas, entre outras questões.

Ainda estamos construindo nosso diferencial. Temos muitas idéias e algumas delas só serão reveladas com o lançamento do cd. A princípio, ter uma banda somente de meninas é um diferencial, pois apesar de existirem muitas bandas, ainda é um cenário em ascensão. O fato de nosso som ser mais pop do que o som da maior parte das bandas femininas também é um diferencial, e nas próximas músicas do CD dá pra perceber um amadurecimento no sentido de identidade da banda também, mas preferimos não colocar rótulos a isso, pra manter o suspense e pra que as pessoas possam fazer isso pela gente, afinal somos o que as pessoas acreditam que somos.

Como é o dia-a-dia da banda? As correrias para lançar EP, vídeo, vocês contam com ajuda de alguém ou fazem tudo na raça mesmo?

Fazemos tudo o que dá pra fazer por nós mesmas. A Helen é fotógrafa e tem um talento excepcional pra edições no photoshop, então nosso material gráfico e fotos promocionais são feitos por ela em 90% das vezes. Toda a parte de criação gráfica acaba caindo sobre ela.

Eu cuido um pouco de tudo. Faço divulgação na internet, atualizo todo o material online da banda, componho as idéias iniciais das músicas, sou responsável pelo agendamento de ensaios e reuniões da banda, entre outras coisas.

A Rê fica com os contatos. É ela quem negocia preços, quem lidera equipe de trabalhos terceirizados, quem põe ordem no financeiro.

Pra trabalhos específicos contamos com ajuda de terceiros. Por exemplo, pra gravação do nosso CD, temos uma parceria com o W. Bala; pra gravação do videoclipe, foram unidas duas equipes de produção e captação respectivamente, o Rasputines e a Destilaria, e por aí vai.

Quais são as mulheres que vocês mais admiram dentro (e pode ser fora) do mundo da música?

A Gwen Stefani e a Pink são ótimas! São grandes influências pra nós três. Também admiramos a Madonna, como uma pessoa que soube fazer sucesso e mantê-lo, que constantemente se renova e conquista fãs de todas as idades.

Qual a previsão de lançamento do EP? Já tem nome? Como foi a produção? Teve algum produtor?

Estamos preparando o CD completinho mesmo, com 10 ou 11 faixas (ainda estamos decidindo esse detalhe), e será chamado “O Tormento do Tempo”. Está sendo produzido pelo W. Bala, que é um produtor bastante renomado e extremamente cuidadoso com os trabalhos que executa aqui de Curitiba.

Por que vocês amam (ou não) o rock and roll?

Sabe que nunca parei pra pensar nisso? Acho que não existe razão pra isso. Ou talvez exista, mas aí precisaríamos fazer uma auto-análise pra pensar onde isso tudo começou. RS.

Essa entrevista foi feita para o site Mundo Rock de Calcinha, da uma passada lá ;)

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Chega de falar de mim - Jancee Dunn


Durante o rolê cultural do último sábado, comprei um livro super indicado pelo meu ex-chefe chamado "Chega de falar de mim". Segundo ele, além de combinar com temas que gosto, ia me dar uma boa noção de como fazer entrevistas (e dicas nunca são demais, hehe).

Ele foi escrito pela Jancee Dunn, uma jornalista novinha da Rolling Stone e da MTV2 que começou a carreira e a vida paralela a música de um jeito muito parecido com o meu (e de muita gente que conheço nessa área). Só que ela tem uma diferença sutil, no seu currículo alguns dos entrevistados célebres são Brad Pitt, Bono Vox e o elenco da série Friends.

Nos 20 capítulos (ainda estou no primeiro), rolam dicas hiper divertidas do tipo: saiba entrevistar uma banda de ressaca e como subir no salto e parar de suar para falar com a Madonna. Paralelo a isso, Jancee vai contando como foi a pressão de entrevistar seus ídolos sem parecer apenas mais uma jornalista faminta por um furo e as vivências no show business, que para ela eram um universo à parte já que cresceu em uma cidadezinha no interior de New Jersey.

Não é uma leitura complexa e reveladora, mas é muito gostosa para quem não trabalha na área e uma maneira legal de compartilhar experiências com quem vive da imprensa musical. Eu estou adorando. Fora a capa que achei uma graciiiinha (já que tento arranhar umas cordas graves nas horas vagas) me identifiquei com a história no primeiro capítulo. Vale a pena comprar.

Ao som de:
With a Little Help From My Friends - The Beatles
Agradecimentos especiais:
Martin Luz Corporated LTDA